Morrem brasileiros
Osias Wurman
Publicado em 30 de Julho de 2005
no jornal O Globo, Opinião
O mundo começa a entender que, se providências
enérgicas não forem tomadas contra o terror suicida, por todas as sociedades amantes da paz, muito em breve teremos que conviver
numa atmosfera de violência, medo e repressão, inédita após a Segunda Guerra Mundial.
Desde o atentado ao World Trade Center,
em setembro de 2001, até o recente episódio no metrô londrino, foram mortos nove brasileiros civis inocentes que não participavam
de qualquer atividade bélica. Em Nova York, no ano de 2001, morreram cinco imigrantes do Brasil, legalizados, e um número
desconhecido de clandestinos que trabalhavam como biscateiros ou engraxates nas torres gêmeas.
Passaram-se dois anos e, em 2003, num
covarde atentado em Bagdá, capital do Iraque, explodiram a sede das Nações Unidas, matando o Alto Comissariado para os Direitos
da ONU, embaixador Sérgio Vieira de Melo, um dos mais talentosos negociadores e humanista, de renome no mundo diplomático.
No ano em curso já temos três motivos
a lamentar. Em janeiro, o engenheiro João José de Vasconcelos, que trabalhava numa empreiteira brasileira dedicada à reconstrução
do Iraque, foi morto numa emboscada. A crueldade dos terroristas que agem diariamente na região impediu que o corpo da vítima
fosse devolvido ao Brasil. Inicialmente pediam um resgate de um milhão de dólares para devolver um ser humano que supostamente
tinha sido apenas seqüestrado. Hoje, pedem US$ 400 mil para entregar o corpo deste trabalhador civil, pai de família, covardemente
assassinado.
Há poucos dias, uma jovem brasileira
de 22 anos, estudante de comunicação, moradora numa comunidade agrícola no Sul de Israel, foi mortalmente atingida por um
míssil Qassam, lançado de Gaza por terroristas palestinos que desejam sabotar os avanços em direção à paz na região. Dana
Galkovitz estava sentada na varanda de sua modesta casa e teve morte instantânea. Foi sepultada no cemitério do kibutz Bror
Chail, uma fazenda coletiva que abriga uma maioria de brasileiros dedicados ao ideal sionista e socialista.
O destino foi mais generoso com os
250 atletas brasileiros que participavam dos jogos olímpicos judaicos - Macabíadas - realizado, na semana passada, em Israel,
reunindo seis mil atletas judeus de 55 países. Muitos brasileiros, atletas e acompanhantes, estavam hospedados na cidade de
Netania, onde um terrorista suicida foi barrado na entrada do maior shopping center da cidade e então acionou seu cinto-bomba,
matando dois israelenses e ferindo dezenas de civis.
A mais recente vítima brasileira, não
diretamente abatida por terroristas, mas por culpa do terror implantado por estes, foi o eletricista Jean Charles de Menezes,
de 27 anos.
Apavorada pelo clima de pânico que
dominou a cidade de Londres, na última sexta-feira, a mais dócil e democrática polícia do mundo, cujos policiais evitam usar
armas (apenas um em 15 está armado), foi obrigada a implantar um estado de alerta total, com ordem para matar qualquer suspeito
de terrorismo. A morte de Menezes teve testemunha de uma execução brutal: deitado no chão, ele levou diversos tiros na cabeça.
Este episódio é um retrato fiel do que representa o trauma de uma sociedade aterrorizada por suicidas assassinos.
O terror em nossos dias é um crime
globalizado e deve ser combatido por todas as nações democráticas, antes que o fundamentalismo criminoso venha a prevalecer
na formação das futuras gerações.
Morrem brasileiros. Que não seja em
vão.